Livro: Amor entre dentes, lábios e língua, de Josiel Barros

 

…revela o ser em sua fenomenologia-existencial a partir do olhar feminino: exercício poético que cria arte tendo como ponto de partida o humano feminino.

 

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amarillis, a deusa agreste

minha boca está aberta
feito o campo celeste.

abaixo do sol,
os meus lábios
são espelho de bronze.
deles, as estrelas saltam
às ruas, às plantas, às pessoas.
tudo logo se transforma
num campo elísio.

já não há
inveja,
desgosto ou
ranhura.

o amor existe
desbocado de teus olhos
a meus lábios.
o amor existe maduro,
e você pode colhê-lo
como uma pera
dourada de sol
na manhã dos verdes
campos.

mal choveu teu beijo
e uma flor furou
a barriga da terra.

eu, Amarillis,
de teus melhores dias,
trago o doce agreste
dos campos floridos.

a flor baila
nos olhos da rua.
sou eu descendo graciosa
para onde brotarei com vigor.

mal choveu teu beijo
e uma flor furou a barriga
da terra.

 

Josiel Barros é professor, poeta, escritor, contista e cronista. Publicou em 2020 “Cesarina, o amor da minha vida – contos e crônicas”; também participou da coletânea: “Poemas entre gerações” (2020); pela Editora Ágape, publicou “João 3:16, uma análise arminiana do extraordinário amor de Deus” (2022), e participou da edição comemorativa: “Antologia Scortecci 40 anos – poemas, contos e crônicas” (2022).

Apresentação 

 

Maduro feito suculento fruto, voz feminina que revela que ser homem ou ser mulher, para além de corpos, hormônios, fisiologias, construções e convenções, é ser na vida e que o diálogo e compreensão mútuos entre gêneros, sim, é possível – ser homem, ser mulher, ser humano – somos existência.
Josiel Barros revela o ser em sua fenomenologia-existencial a partir do olhar feminino: exercício poético que cria arte tendo como ponto de partida o humano feminino. Qual é mesmo a diferença entre homens e mulheres? O que tanto nos separa? O que nos é comum? O que somos? São reflexões que beiram a poética de Josiel e de sua voz em eu lírico feminino. Além de o poeta cantar encontros e desencontros que permeiam as relações, filosoficamente românticas embasadas em eros.

Daltro Paiva
Poeta

 

 

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  (   (   SELEÇÃO de POEMAS   )    )

a pele da alma

meu livro amassado
ao pé da cama
diz que fechei
os olhos ao amanhecer.
tenho recordado tuas mãos,
tua pele, teus olhos…

em que varal
ficou pendurada
a roupa de nossos
sonhos falidos?
diz-me antes
que me consuma inteiramente
o labirinto de tua falsidade.

onde foi parar a mulher
que existia
nestas carnes jovens,
e agora jazem tão vazias?
onde foi parar a mulher
de meus melhores dias?

caso alguém a encontre,
avise que,
embora não pareça,
ainda sou a pele
de sua alma;
de sua alma fria.

desejo

 

desejo
que em teus olhos
eu seja o brilho
e em teu corpo,
o molejo.

que em tua boca,
eu seja a saliva
e em tua alma,
o gracejo.

que tu me sejas
o vento
e também
a saudade.

que tu me sejas
o sonho
e o fogo
que arde.

e que me mordas
os lábios,
e que eu te
leve além.

que eu te
faça sonhar
como tu me fazes
tão bem.

e assim como
se vão as aves,
que voemos
também.

 

o voo da borboleta

ando a ermo
pelas ruas da cidade
metida num vestido florido.
as pessoas têm
seus afazeres
e não veem
que pisei na língua
da maldade.

nada melhor
que ter esfregado
na tua cara
as palavras sangrentas
que em mim cacarejam.

só o vento
– e mais ninguém –
celebra comigo.
ele vem de baixo,
ergue-me as abas,
e elas, celebrando,
caranguejam.

olho uns homens
vadios e feios;
desejo rever tua cara
de sacarina sendo
varrida pelas ruas
e calçadas…
uma borboleta
azul transparente se achega
ao beiral do precipício;
ela vibra plena,
volteia, cereja
– é uma nova estrada.

as abas faceiras
de meu vestido
não se contêm
e se despejam
no céu branquíssimo da tarde.
deixo casa,
propostas,
emprego
e volto a Deus florida
com corpo ferido após
a tempestade.

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