Convidamos você a explorar essa coletânea de versos que tocam a alma. Deixe-se envolver pelas palavras de Camila Fonseca e dos demais poetas que fazem parte desta seleção especial.
A poesia segue viva, e seu eco ressoa em cada leitor que se permite sentir.
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poema vencedor
em silêncio
ensina-me o silêncio
a trabalhar com ele
a comer em sua companhia
a escutar em sua presença
e a falar através dele
ensina-me o silêncio
a partilhá-lo com os eus que escondo
a descobri-lo sempre necessário
a percebê-lo acalanto nas más horas
e a atravessá-lo no domingo
ensina-me o silêncio
a querer em silêncio, e não pedir
a viver em sua companhia, e ser suficiente
a sofrer em sua presença, e achar válido
e a amar através dele, e ser completa
ensina-me a querer ser em silêncio
tudo o que não pude querer ser
tudo o que não pude querer dar
tudo o que não pude querer esperar
tudo o que não pude querer suportar
em palavras
Camila Fonseca
@rcamilacalderano
poemas desta edição
19 em silêncio
Camila Fonseca
21 as saudades nos chorem
LUKA KALU
25 caneca, café, frio da vida
Ane Vasconcel
26 temporal
Bernadete Vogel
27 o amor tem dessas coisas
Gustavo Silva
28 Soberba
Ísis Victhória Vogel Kieper
29 sobre o memorial às vítimas do holocausto
José Lucas Ventura Castilho
30 chora comigo hoje?
Rafaela Campelo
31 feliz-mente
Ramon Grossi
32 utopicamente poético
Igor Pereira
33 baile das primaveras
Silvany Barros
34 entender você me custou caro
Thaylane Nunes Teles
35 amanhã de manhã
Roberto Chavez Doto
36 juventude Sabiá
Johnes Evangelista
37 sensações
Kevily Meili
38 ansiedade
Geysa Souza
39 ainda
Milena Carolina Ribeiro
41 emoções
Izabelle Ferreira Pinheiro
42 as delícias da dor
Hudson Romério
43 desordem interestelar
Ana Tábita
44 leviano
D’$ilva
45 dor
Elizabeth Senra Guessada
46 soneto da dúvida
Augustus
47 direção
Matheus E. Reis
apresentação da antologia
Matheus Vinicius
A primeira colocada da edição n.º 18da antologia Poesia Agora, Camila Fonseca, com seu poema “Em Silêncio”, nos trouxe o brilho da composição formulada em um jogo de luz e sombra, um trabalho de reflexos que remete à própria reflexão do poema. Explico. A maior parte das linhas do poema, com exceção das quatro penúltimas, seguem a marcação de “e” e “a” no ínicio, o que é um espelhamento do que se poderia pensar em uma montagem mais tradicional, onde as rimas dos versos apareceriam ao final. Isso é o que chamamos de anáforas, repetições de palavras ou partículas gramaticais que ajudam tanto na memorização, quanto na montagem de uma espécie de máquina semiótica que nos empurra ao silêncio. No texto da Poeta (com P maiusculo de premiada e promissora, haja vista que é a primeira antologia da qual ela participa) essas repetições, e outras, operam tanto uma marca rítmica, por se esperar que elas reapareçam no mesmo intervalo, quanto um vazio silencioso dado que a reaparição não marca nenhuma diferença semântica, o que conduz o leitor ao silêncio, o qual o próprio poema evoca.
Camila Fonseca marca a sua estreia pública como uma poeta aliada à tradição apolínea, que tomamos junto ao ponto de vista estudado por Nietzsche em seus seminários “A Visão Dionisíaca do Mundo”, posto que o trabalho da autora se dá na lapidação de uma experiência subjetiva, como se desenhasse um sonho com as palavras, uma experiência íntima, um monólogo que, por ter o silêncio como interlocutor, a não resposta deste último se trata da sua expressão mesma. De riqueza ímpar o seu trabalho termina no momento exato, como uma espécie de adieu au langage, o que não se pode pôr em palavras já não se exercita para além do necessário, se coadunando ao final o silêncio, o poema, a autora, o texto se converte em um sonho desperto na ponta dos nossos olhos.
Em segundo lugar, e não menos importante para a nossa presente antologia, o poema de Cléber Leandro Nardeli “As Saudades Nos Chorem”, opera uma trança de dois fios, ao menos, em seu interior. Em primeiro plano, Nardeli estabelece o movimento de liberação do peso da despedida. Por mais que se estabeleça no texto uma investigação sobre o fim da vida, ela não se encarrega de degenerar as esperanças, de enfraquecer as limitações mortais do humano, mas justamente nela, na nossa limitação que a cada dia o tempo expõe mais e mais, que a vida se afirma. Ter vindo nascer para crescer põe sob a ordem do dia a fortificação da experiência mesma da vida, em seu doce e em seu amargo.
Em segundo plano, por conta do movimento que estabelece de uma forma mais nítida em uma primeira leitura, o Poeta integra a sua existência as demais pessoas e à natureza, equilibrando a sua ação sem remorsos ao olho no olho e ao ter florido sua vida em estação própria. A inversão que provoca no final, na linha que dá título ao poema, empurra a negação da vida para fora de qualquer contato ou significação produzida; os seus versos, que em legado continuarão conosco e com os próximos que virão, se integram ao nosso espírito como um amuleto para se atravessar a noite escura e o vale morte, nos advertem a colorir o contorno que demos às nossas histórias, quaisquer que sejam, sem lamentos e no mais – que as saudades nos chorem.
Quanto aos outros poetas que participaram da nossa antologia, somos muito gratos pela diversidade que pudemos contar neste trabalho. De poemas de amor, tratamentos poéticos para as dores, o despertar de novas trilhas, até mesmo a acolhida confortável de um café à beira de um sonhar acordado, esses trabalhos mostram a diversidade da poesia no Brasil, o melhor que temos em arte, em cultivo das palavras. A aventura séria e comprometida que nos foi organizar essa seleção dourada, esperamos, também irá reluzir para cada autor que terá contato com os trabalhos aqui presentes. Também desejamos que a nossa modesta contribuição para a poesia no atual cenário favoreça o contato entre os diversos autores, cujas redes sociais, em sua maioria, estão disponíveis. Acreditamos no diálogo e na arte como insight de qualquer melhoria das nossas vidas pessoal e coletivamente falando.
segundo colocado
as saudades nos chorem
Não mais o mesmo sol do amanhecer
Não folhas, mas passarelas
Hoje morri de saudade
Amanhã, ela morrerá por mim
Não há mais tempo ao destempo
Ainda há lápis
Pra colorir
A areia desce a ampulheta
Grão a grão
Contando, métricos, o poema da existência!
Daqui não levarei títulos, fama, prêmios
O só tostão!
Só o vento
Meus olores em estrofes regadas na paixão!
(No verso a lua revela, crescente, ao bardo, a missão!)
Não só sementes despertam equinócios
Também flori
Como ipês em meus solstícios!
(Primaveras, despertastes a Estrela da Manhã!)
Pra cada segundo, célula e átomo:
Estou sem tempo para as mesmas cores!
A trama se esvai
E eu vim nascer pra crescer!
De mim?!
Só restará o legado das rimas!
(Até que o vento as remova e as ondas rebentem!)
Fixa teus olhos nos meus:
Toma este vidro de espelho estoico
E sente a rima
Da tua imagem em versos consoladores –
Que ora me nascem, me crescem, me poetizam
Porque nascemos pra ‘crescer! –
E pra fazer com que as saudades nos chorem
LUKA KALU
@cleber_leandro_nardeli
Poemas muito bons, Foram muitas as emoções que se apoderaram do meu ser enquanto os lia, abraço de coração para todos os autores e muita sorte para a Editora Trevo.