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Poesia Agora 18: Apresentação dos poemas vencedores

Convidamos você a explorar essa coletânea de versos que tocam a alma. Deixe-se envolver pelas palavras de Camila Fonseca e dos demais poetas que fazem parte desta seleção especial.

A poesia segue viva, e seu eco ressoa em cada leitor que se permite sentir.

 

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poema vencedor

 

em silêncio

 

ensina-me o silêncio

a trabalhar com ele

a comer em sua companhia

a escutar em sua presença

e a falar através dele

ensina-me o silêncio

a partilhá-lo com os eus que escondo

a descobri-lo sempre necessário

a percebê-lo acalanto nas más horas

e a atravessá-lo no domingo

ensina-me o silêncio

a querer em silêncio, e não pedir

a viver em sua companhia, e ser suficiente

a sofrer em sua presença, e achar válido

e a amar através dele, e ser completa

ensina-me a querer ser em silêncio

tudo o que não pude querer ser

tudo o que não pude querer dar

tudo o que não pude querer esperar

tudo o que não pude querer suportar

em palavras

Camila Fonseca

@rcamilacalderano

 

poemas desta edição

 

19 em silêncio

Camila Fonseca

21 as saudades nos chorem

LUKA KALU

25 caneca, café, frio da vida

Ane Vasconcel

26 temporal

Bernadete Vogel

27 o amor tem dessas coisas

Gustavo Silva

28 Soberba

Ísis Victhória Vogel Kieper

29 sobre o memorial às vítimas do holocausto

José Lucas Ventura Castilho

30 chora comigo hoje?

Rafaela Campelo

31 feliz-mente

Ramon Grossi

32 utopicamente poético

Igor Pereira

33 baile das primaveras

Silvany Barros

34 entender você me custou caro

Thaylane Nunes Teles

35 amanhã de manhã

Roberto Chavez Doto

36 juventude Sabiá

Johnes Evangelista

37 sensações

Kevily Meili

38 ansiedade

Geysa Souza

39 ainda

Milena Carolina Ribeiro

41 emoções

Izabelle Ferreira Pinheiro

42 as delícias da dor

Hudson Romério

43 desordem interestelar

Ana Tábita

44 leviano

D’$ilva

45 dor

Elizabeth Senra Guessada

46 soneto da dúvida

Augustus

47 direção

Matheus E. Reis

 

apresentação da antologia

Matheus Vinicius

A primeira colocada da edição n.º 18da antologia Poesia Agora, Camila Fonseca, com seu poema “Em Silêncio”, nos trouxe o brilho da composição formulada em um jogo de luz e sombra, um trabalho de reflexos que remete à própria reflexão do poema. Explico. A maior parte das linhas do poema, com exceção das quatro penúltimas, seguem a marcação de “e” e “a” no ínicio, o que é um espelhamento do que se poderia pensar em uma montagem mais tradicional, onde as rimas dos versos apareceriam ao final. Isso é o que chamamos de anáforas, repetições de palavras ou partículas gramaticais que ajudam tanto na memorização, quanto na montagem de uma espécie de máquina semiótica que nos empurra ao silêncio. No texto da Poeta (com P maiusculo de premiada e promissora, haja vista que é a primeira antologia da qual ela participa) essas repetições, e outras, operam tanto uma marca rítmica, por se esperar que elas reapareçam no mesmo intervalo, quanto um vazio silencioso dado que a reaparição não marca nenhuma diferença semântica, o que conduz o leitor ao silêncio, o qual o próprio poema evoca.

Camila Fonseca marca a sua estreia pública como uma poeta aliada à tradição apolínea, que tomamos junto ao ponto de vista estudado por Nietzsche em seus seminários “A Visão Dionisíaca do Mundo”, posto que o trabalho da autora se dá na lapidação de uma experiência subjetiva, como se desenhasse um sonho com as palavras, uma experiência íntima, um monólogo que, por ter o silêncio como interlocutor, a não resposta deste último se trata da sua expressão mesma. De riqueza ímpar o seu trabalho termina no momento exato, como uma espécie de adieu au langage, o que não se pode pôr em palavras já não se exercita para além do necessário, se coadunando ao final o silêncio, o poema, a autora, o texto se converte em um sonho desperto na ponta dos nossos olhos.

Em segundo lugar, e não menos importante para a nossa presente antologia, o poema de Cléber Leandro Nardeli “As Saudades Nos Chorem”, opera uma trança de dois fios, ao menos, em seu interior. Em primeiro plano, Nardeli estabelece o movimento de liberação do peso da despedida. Por mais que se estabeleça no texto uma investigação sobre o fim da vida, ela não se encarrega de degenerar as esperanças, de enfraquecer as limitações mortais do humano, mas justamente nela, na nossa limitação que a cada dia o tempo expõe mais e mais, que a vida se afirma. Ter vindo nascer para crescer põe sob a ordem do dia a fortificação da experiência mesma da vida, em seu doce e em seu amargo.

Em segundo plano, por conta do movimento que estabelece de uma forma mais nítida em uma primeira leitura, o Poeta integra a sua existência as demais pessoas e à natureza, equilibrando a sua ação sem remorsos ao olho no olho e ao ter florido sua vida em estação própria. A inversão que provoca no final, na linha que dá título ao poema, empurra a negação da vida para fora de qualquer contato ou significação produzida; os seus versos, que em legado continuarão conosco e com os próximos que virão, se integram ao nosso espírito como um amuleto para se atravessar a noite escura e o vale morte, nos advertem a colorir o contorno que demos às nossas histórias, quaisquer que sejam, sem lamentos e no mais – que as saudades nos chorem.

Quanto aos outros poetas que participaram da nossa antologia, somos muito gratos pela diversidade que pudemos contar neste trabalho. De poemas de amor, tratamentos poéticos para as dores, o despertar de novas trilhas, até mesmo a acolhida confortável de um café à beira de um sonhar acordado, esses trabalhos mostram a diversidade da poesia no Brasil, o melhor que temos em arte, em cultivo das palavras. A aventura séria e comprometida que nos foi organizar essa seleção dourada, esperamos, também irá reluzir para cada autor que terá contato com os trabalhos aqui presentes. Também desejamos que a nossa modesta contribuição para a poesia no atual cenário favoreça o contato entre os diversos autores, cujas redes sociais, em sua maioria, estão disponíveis. Acreditamos no diálogo e na arte como insight de qualquer melhoria das nossas vidas pessoal e coletivamente falando.

 

segundo colocado

 

as saudades nos chorem

 

Não mais o mesmo sol do amanhecer

Não folhas, mas passarelas

 

Hoje morri de saudade

Amanhã, ela morrerá por mim

 

Não há mais tempo ao destempo

Ainda há lápis

Pra colorir

 

A areia desce a ampulheta

Grão a grão

Contando, métricos, o poema da existência!

 

Daqui não levarei títulos, fama, prêmios

O só tostão!

Só o vento

Meus olores em estrofes regadas na paixão!

 

(No verso a lua revela, crescente, ao bardo, a missão!)

 

Não só sementes despertam equinócios

Também flori

Como ipês em meus solstícios!

 

(Primaveras, despertastes a Estrela da Manhã!)

 

Pra cada segundo, célula e átomo:

Estou sem tempo para as mesmas cores!

 

A trama se esvai

E eu vim nascer pra crescer!

De mim?!

Só restará o legado das rimas!

 

(Até que o vento as remova e as ondas rebentem!)

 

Fixa teus olhos nos meus:

Toma este vidro de espelho estoico

E sente a rima

Da tua imagem em versos consoladores –

 

Que ora me nascem, me crescem, me poetizam

Porque nascemos pra ‘crescer! –

 

E pra fazer com que as saudades nos chorem

LUKA KALU

@cleber_leandro_nardeli

 

 

 

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