Submarino Azul propõe aos leitores um mergulho na experimentação de diferentes afetos de uma jovem começando a vida adulta.
Teu te projetei oceano
quando você era só água parada
te conheci mar
cor de profundidade
fundo de areia
mergulho sem fôlego
navio naufragado
me equipei para ir mais fundo
treinei minhas emoções
e quando pensei ter chegado ao fim
já não havia luz
nem vida
a
f
u
n
d
e
i
BEATRIZ FERROLI artista, médica e escritora. Nasceu em 1994, na cidade de Gurupi, interior do Tocantins, e começou a escrever poemas na escola, aos 16 anos. Formou-se em medicina pela Universidade Federal do Tocantins no ano de 2019. Atualmente, está cursando especialização em psiquiatria. A subjetividade humana e a arte são temas que a acompanharam até aqui e são marcantes em seus escritos. Seu primeiro livro, submarino azul, propõe aos leitores um mergulho na experimentação de diferentes afetos de uma jovem começando a vida adulta.
Apresentação
Submarino Azul é o resultado de um longo processo de cerca de dez anos de escrita e descobrimento, iniciado aos meus plenos dezessete anos. Considero-me uma entusiasta da poesia e das artes. E, desde cedo, a escrita se tornou um momento de recolhimento e digestão das minhas experiências afetivas juvenis. O submarino suporta a pressão de uma grande coluna de água, e é nela que encontro refletidos sentimentos mais puros e frágeis como saudade, raiva, medo, tristeza e (auto)amor. Este livro começa com um convite à submersão à bordo do meu submarino particular de sentimentos. Convido o leitor à navegação por entre águas cristalinas da superfície, calmas e serenas, como a descoberta do primeiro amor e da juventude. E por águas conturbadas de uma paixão que, de tão avassaladora, nos faz usar de camuflagem quando já nos perdemos no caminho e não sabemos mais quem somos. Em águas ultraprofundas, pretendo mostrar meu lado mais vulnerável e adentrar sentimentos frustrados, falhos, intensos e horrivelmente belos. Encontrei algumas armas antissubmarino pelo caminho, lançadas como carga de profundidade que, inevitavelmente, atingiram-me e causaram estragos irreparáveis. Em algum momento, após amores e dissabores, encontramos força para subir à superfície, em uma espécie de subida de emergência. No final dessa jornada, após quase finalizar o livro, encontrei alguns tesouros naufragados, minhas primeiras escritas perdidas em um caderno antigo.
Beatriz Ferroli
( ( SELEÇÃO de POEMAS ) )
eu já não sei por onde re
começar
já me perdi e me achei tantas vezes
só consigo ver flashes de momentos
como um filme sempre em replay
meu peito já não comporta mais tantas falas
um sonho se torna pesadelo pela ação do tempo
horas
dias
pessoas
lugares
choro
riso
raiva
medo!
de me perder
eu já me perdi
na verdade
me encontro perdida
não sei qual próximo passo dar
só quero sair desse lugar
me perdi
e tenho medo de me achar
*
em grande parte dos dias
isso não é um fardo para mim
sinto-me privilegiada por sentir
mas é essa minoria dos dias
que me assombra e
domina minha mente
fico presa nessa correnteza circular
de ideias paranoides
vivo nesse cabo de guerra entre a realidade e a incerteza
pareço exagerada para você
mas entenda
essa jornada de gigantes é minha
você não precisa me salvar deles
só olhe nos meus olhos e diga que vai ficar
MERGULHO
tenho tanto para falar
mas tanto mesmo
que as palavras se esgotam em silêncio
o silêncio da mente atordoada por conversas sem valor
como mergulhar num oceano de multidões e se deparar em um aquário
um lugar solitário em que sou obrigada encarar o pior de mim
o cheiro que entorpece me faz refúgio temporário
como quebrar esse vidro e mergulhar em mar aberto?
e se esse mergulho não me trouxer de volta à vida?
MAPA
refaço o caminho
na minha mente
onde me perdi?
tento lembrar como era
passar uma tarde sem
esses pensamentos
que me assombram
ou será que eu estava
ocupada demais para perceber
que eles sempre estiveram aqui?
por um instante me desligo
de minha consciência
e retomo aos milhares de
estradas da mente
enquanto o vai e vem do balanço
mostra cores e sons que
me fazem ter esperança
estou exausta da existência banal
suplico ao destino que limite
meus dias a seguir
a vibração
do improvável
do impossível